

Autoplágio na Pesquisa Científica: O que é, como evitar e por que ele pode arruinar sua publicação
Você já escreveu um trabalho tão bom que pensou: “Vou aproveitar esse trecho aqui no meu próximo artigo”?
Se sim, cuidado. Você pode estar cometendo autoplágio — uma prática muitas vezes ignorada, mas que pode comprometer sua credibilidade como pesquisador, levar à rejeição de artigos ou até à retração de publicações.
Neste artigo, vamos entender:
O que é autoplágio e por que é problemático
Quais são as implicações nas revistas científicas
Como editores, orientadores e avaliadores enxergam isso
E o mais importante: como evitar o autoplágio na prática
📌 O que é autoplágio?
Autoplágio é a reutilização parcial ou total de textos, dados, gráficos ou ideias de trabalhos anteriores do próprio autor, sem a devida referência ou sem informar que já foram publicados.
É o famoso: “copiar de si mesmo achando que está tudo bem”. Mas não está.
🎓 Também é chamado de:
Redundância textual
Publicação duplicada
Reaproveitamento indevido
🧪 Exemplo prático
Você está no doutorado, mas já defendeu o mestrado. No seu trabalho anterior, você escreveu um artigo publicado em uma revista científica, com o título:
“Efeito de adubação verde no manejo do solo em sistemas orgânicos”
Publicado em 2022
Agora, em 2025, você está escrevendo um novo artigo, com título:
“Adubação verde e cobertura vegetal: estratégias sustentáveis para solos tropicais”
Você decide aproveitar parte da introdução e do referencial teórico do artigo anterior. Copia dois parágrafos quase inteiros, muda algumas palavras, ajusta um verbo aqui, outro ali… mas não informa à nova revista que esse trecho já foi publicado antes.
🚨 O que acontece?
O manuscrito é submetido à nova revista.
O editor passa o texto em um software de similaridade textual (ex: iThenticate).
O relatório mostra alta taxa de similaridade com o seu artigo anterior.
O editor identifica reuso de conteúdo sem citação — mesmo sendo do próprio autor.
💣 Resultado: Autoplágio.
Mesmo que você tenha mudado algumas palavras, a estrutura, a ordem das ideias e boa parte das frases são as mesmas.
Você reaproveitou conteúdo publicado sem avisar, sem referenciar e sem apresentar como adaptação.
🧠 Como evitar isso?
Se você estivesse escrevendo de forma ética e transparente, faria algo assim:
"Parte da fundamentação teórica desta pesquisa foi originalmente discutida em Silva (2022), sendo atualizada aqui com foco na aplicação em solos tropicais."
Ou, na carta ao editor:
“Informamos que parte do conteúdo da introdução foi adaptada de publicação anterior do autor (Silva, 2022), devidamente citada no corpo do texto. O restante do manuscrito é inédito.”
📌 Moral da história:
Autoplágio não é apenas copiar.
É não avisar, não citar e não contextualizar o reaproveitamento de conteúdo já publicado — mesmo que o autor seja você.
❗ Por que o autoplágio é um problema sério?
Apesar de parecer inofensivo, o autoplágio fere princípios éticos fundamentais da ciência, como:
1. Transparência
O leitor tem o direito de saber se aquele conteúdo é inédito ou já foi publicado antes.
2. Originalidade
Revistas científicas exigem que os artigos submetidos sejam originais — e isso inclui o texto.
3. Credibilidade
Repetir textos em várias publicações infla artificialmente o volume de produção de um autor.
4. Integridade acadêmica
O autoplágio pode ser interpretado como tentativa de burlar o sistema de avaliação, especialmente quando se busca pontuação em concursos, CAPES ou progressões.
⚖️ O que dizem as normas e revistas científicas?
🔍 COPE (Committee on Publication Ethics)
“Autores não devem publicar o mesmo trabalho em mais de um periódico, exceto em circunstâncias específicas e justificadas.”
📚 ABNT NBR 10520 e 6023
Não abordam diretamente o autoplágio, mas reforçam a importância da referência clara de fontes, inclusive do próprio autor.
🧾 Revistas científicas sérias:
Usam softwares de detecção de similaridade, como Turnitin, iThenticate, CopySpider
Rejeitam ou solicitam explicações quando identificam repetição textual acima de 10 a 20%
Em casos graves, podem retratar o artigo e banir o autor por tempo indeterminado
🧭 Como evitar o autoplágio na prática?
✅ 1. Sempre cite seus próprios trabalhos anteriores
Mesmo que seja você o autor, deve indicar claramente quando estiver reutilizando conteúdo já publicado.
✅ 2. Reescreva com propósito
Se precisar usar uma ideia já abordada, reescreva com outro foco, aprofundamento ou abordagem nova.
✅ 3. Avise a revista
Se você pretende reutilizar parte de um texto (ex: método), informe na carta ao editor ou no corpo do artigo. A transparência evita problemas.
✅ 4. Utilize ferramentas de verificação
Antes de submeter, passe o artigo em ferramentas como:
CopySpider (gratuito e em português)
iThenticate (usado por revistas internacionais)
Grammarly Premium (detecta duplicações)
✅ 5. Evite publicar a mesma pesquisa em partes fragmentadas
Isso é chamado de salami publication — quando um mesmo estudo é dividido em várias publicações menores. Também é malvisto.
⚠️ O autoplágio pode prejudicar sua carreira?
Sim, e muito. Veja o que pode acontecer:
Rejeição do artigo na fase inicial
Retratação pública de artigos já publicados
Diminuição da sua reputação acadêmica
Prejuízos em avaliações da CAPES e CNPq
Problemas com banca de defesa, caso o orientador ou avaliador perceba duplicidade
🎓 Conclusão: respeite sua produção e jogue limpo com a ciência
Você tem o direito de se orgulhar dos seus próprios textos e descobertas. Mas isso não significa que pode reaproveitá-los sem critério.
A boa ciência é construída com:
Transparência
Ética
E respeito ao leitor e à comunidade acadêmica
Na dúvida, cite, reescreva ou pergunte ao editor. Evitar o autoplágio é uma forma de valorizar sua trajetória como pesquisador.