Sobre o Autoplágio e Plágio

O que é, como evitar e por que pode prejudicar sua carreira. Entenda o que é autoplágio, os riscos nas revistas científicas e como evitar esse erro que compromete a ética da sua publicação.

Greguy Looban

7/24/20254 min leer

Autoplágio na Pesquisa Científica: O que é, como evitar e por que ele pode arruinar sua publicação

Você já escreveu um trabalho tão bom que pensou: “Vou aproveitar esse trecho aqui no meu próximo artigo”?

Se sim, cuidado. Você pode estar cometendo autoplágio — uma prática muitas vezes ignorada, mas que pode comprometer sua credibilidade como pesquisador, levar à rejeição de artigos ou até à retração de publicações.

Neste artigo, vamos entender:

  • O que é autoplágio e por que é problemático

  • Quais são as implicações nas revistas científicas

  • Como editores, orientadores e avaliadores enxergam isso

  • E o mais importante: como evitar o autoplágio na prática

📌 O que é autoplágio?

Autoplágio é a reutilização parcial ou total de textos, dados, gráficos ou ideias de trabalhos anteriores do próprio autor, sem a devida referência ou sem informar que já foram publicados.

É o famoso: “copiar de si mesmo achando que está tudo bem”. Mas não está.

🎓 Também é chamado de:

  • Redundância textual

  • Publicação duplicada

  • Reaproveitamento indevido

🧪 Exemplo prático

Você está no doutorado, mas já defendeu o mestrado. No seu trabalho anterior, você escreveu um artigo publicado em uma revista científica, com o título:

“Efeito de adubação verde no manejo do solo em sistemas orgânicos”
Publicado em 2022

Agora, em 2025, você está escrevendo um novo artigo, com título:

“Adubação verde e cobertura vegetal: estratégias sustentáveis para solos tropicais”

Você decide aproveitar parte da introdução e do referencial teórico do artigo anterior. Copia dois parágrafos quase inteiros, muda algumas palavras, ajusta um verbo aqui, outro ali… mas não informa à nova revista que esse trecho já foi publicado antes.

🚨 O que acontece?

  1. O manuscrito é submetido à nova revista.

  2. O editor passa o texto em um software de similaridade textual (ex: iThenticate).

  3. O relatório mostra alta taxa de similaridade com o seu artigo anterior.

  4. O editor identifica reuso de conteúdo sem citação — mesmo sendo do próprio autor.

💣 Resultado: Autoplágio.

Mesmo que você tenha mudado algumas palavras, a estrutura, a ordem das ideias e boa parte das frases são as mesmas.
Você reaproveitou conteúdo publicado sem avisar, sem referenciar e sem apresentar como adaptação.

🧠 Como evitar isso?

Se você estivesse escrevendo de forma ética e transparente, faria algo assim:

"Parte da fundamentação teórica desta pesquisa foi originalmente discutida em Silva (2022), sendo atualizada aqui com foco na aplicação em solos tropicais."

Ou, na carta ao editor:

“Informamos que parte do conteúdo da introdução foi adaptada de publicação anterior do autor (Silva, 2022), devidamente citada no corpo do texto. O restante do manuscrito é inédito.”

📌 Moral da história:

Autoplágio não é apenas copiar.
É não avisar, não citar e não contextualizar o reaproveitamento de conteúdo já publicado — mesmo que o autor seja você.

❗ Por que o autoplágio é um problema sério?

Apesar de parecer inofensivo, o autoplágio fere princípios éticos fundamentais da ciência, como:

1. Transparência

O leitor tem o direito de saber se aquele conteúdo é inédito ou já foi publicado antes.

2. Originalidade

Revistas científicas exigem que os artigos submetidos sejam originais — e isso inclui o texto.

3. Credibilidade

Repetir textos em várias publicações infla artificialmente o volume de produção de um autor.

4. Integridade acadêmica

O autoplágio pode ser interpretado como tentativa de burlar o sistema de avaliação, especialmente quando se busca pontuação em concursos, CAPES ou progressões.

⚖️ O que dizem as normas e revistas científicas?

🔍 COPE (Committee on Publication Ethics)

“Autores não devem publicar o mesmo trabalho em mais de um periódico, exceto em circunstâncias específicas e justificadas.”

📚 ABNT NBR 10520 e 6023

Não abordam diretamente o autoplágio, mas reforçam a importância da referência clara de fontes, inclusive do próprio autor.

🧾 Revistas científicas sérias:

  • Usam softwares de detecção de similaridade, como Turnitin, iThenticate, CopySpider

  • Rejeitam ou solicitam explicações quando identificam repetição textual acima de 10 a 20%

  • Em casos graves, podem retratar o artigo e banir o autor por tempo indeterminado

🧭 Como evitar o autoplágio na prática?

✅ 1. Sempre cite seus próprios trabalhos anteriores

Mesmo que seja você o autor, deve indicar claramente quando estiver reutilizando conteúdo já publicado.

✅ 2. Reescreva com propósito

Se precisar usar uma ideia já abordada, reescreva com outro foco, aprofundamento ou abordagem nova.

✅ 3. Avise a revista

Se você pretende reutilizar parte de um texto (ex: método), informe na carta ao editor ou no corpo do artigo. A transparência evita problemas.

✅ 4. Utilize ferramentas de verificação

Antes de submeter, passe o artigo em ferramentas como:

  • CopySpider (gratuito e em português)

  • iThenticate (usado por revistas internacionais)

  • Grammarly Premium (detecta duplicações)

✅ 5. Evite publicar a mesma pesquisa em partes fragmentadas

Isso é chamado de salami publication — quando um mesmo estudo é dividido em várias publicações menores. Também é malvisto.

⚠️ O autoplágio pode prejudicar sua carreira?

Sim, e muito. Veja o que pode acontecer:

  • Rejeição do artigo na fase inicial

  • Retratação pública de artigos já publicados

  • Diminuição da sua reputação acadêmica

  • Prejuízos em avaliações da CAPES e CNPq

  • Problemas com banca de defesa, caso o orientador ou avaliador perceba duplicidade

🎓 Conclusão: respeite sua produção e jogue limpo com a ciência

Você tem o direito de se orgulhar dos seus próprios textos e descobertas. Mas isso não significa que pode reaproveitá-los sem critério.

A boa ciência é construída com:

  • Transparência

  • Ética

  • E respeito ao leitor e à comunidade acadêmica

Na dúvida, cite, reescreva ou pergunte ao editor. Evitar o autoplágio é uma forma de valorizar sua trajetória como pesquisador.

Foto: Pixabay