Produção científica brasileira em 2025: avanço quantitativo, dilemas estruturais e caminhos possíveis
A ciência brasileira cresceu em 2025, mas ainda enfrenta assimetrias, cortes e pressões por produtividade. Veja os dados e reflexões mais atuais.
Greguy Looban
7/26/20255 min leer


📚 A produção científica no Brasil em 2025: estamos avançando — mas para onde?
Nos últimos anos, o Brasil tem oscilado entre conquistas e retrocessos no campo da ciência. Em 2025, voltamos a observar um crescimento quantitativo relevante na produção de artigos científicos. No entanto, essa recuperação numérica não pode ser analisada isoladamente: é preciso discutir as condições estruturais, as desigualdades regionais e os critérios de avaliação que moldam o fazer científico no país.
Neste artigo, reunimos dados de fontes confiáveis como Clarivate/CAPES, SciELO, Springer Nature e SBPC, para refletir sobre o estado atual da ciência brasileira, sem esconder os desafios e contradições que ainda atravessam esse cenário.
📈 Produção científica brasileira cresce 6%: sinal de recuperação ou correção estatística?
Após uma queda acumulada de 7,2% nos anos de 2022 e 2023, a produção científica nacional voltou a crescer em 2024, com um aumento de aproximadamente 6% no número de artigos publicados.
Esse dado, divulgado pelo relatório Clarivate/CAPES, foi interpretado como um indicativo de recuperação o que, em parte, é verdade.
Contudo, é necessário relativizar esse crescimento. Ele se dá em um contexto de:
Subfinanciamento crônico de ciência e tecnologia;
Fuga de pesquisadores para o exterior ou para áreas não acadêmicas;
Pressões institucionais para cumprir metas de produtividade desconectadas da realidade de muitas instituições públicas.
Crescer numericamente não significa, necessariamente, que estamos em um ambiente mais propício à produção científica. Pode ser apenas uma resposta a exigências avaliativas como a manutenção de conceitos da CAPES que incentivam o volume em detrimento da profundidade.
🌍 Publicamos mais… e melhor?
Como discutido anteriormente, um dado relevante aponta que 48,7% das publicações brasileiras em 2024 foram veiculadas em periódicos que integram o Top 25% mais citados no mundo. Isso representa um avanço em termos de visibilidade internacional e impacto acadêmico, especialmente quando comparado com períodos anteriores.
Porém, é necessário um olhar crítico:
A maior parte dessas publicações está concentrada em áreas com maior inserção internacional, como Medicina, Inteligência Artificial e Biotecnologia;
Pesquisas de interesse local, regional ou com foco social tendem a não acessar essas revistas, ainda que tenham relevância concreta;
Critérios editoriais e custos de publicação seguem sendo barreiras reais, especialmente para pesquisadores de instituições periféricas.
Portanto, embora seja um avanço publicar mais em revistas de alto impacto, isso não pode ser tomado como sinônimo automático de qualidade científica ou relevância social.
🤝 Colaboração internacional: uma estratégia de inserção (ainda desigual)
Em 2024, 37,4% das publicações científicas brasileiras foram realizadas em coautoria com pesquisadores estrangeiros. A média de citações desses artigos (12 por publicação) é mais que o dobro das citações dos artigos produzidos apenas por autores brasileiros (5,2 citações em média).
Essa diferença evidencia que a colaboração internacional é uma estratégia eficaz de inserção global. No entanto, ela também revela desigualdades:
Instituições com mais estrutura e redes internacionais consolidadas conseguem colaborar mais e melhor;
Áreas com menos recursos, ou voltadas a contextos regionais, enfrentam dificuldades para se internacionalizar;
Existe um risco de dependência: parcerias assimétricas em que o pesquisador brasileiro atua apenas como executor técnico.
A internacionalização deve ser uma meta, sim — mas precisa vir acompanhada de autonomia intelectual e investimento nacional consistente.
🧪 Em quais áreas o Brasil publica mais — e com que implicações?
Entre 2019 e 2023, o Brasil se destacou em volume de publicações nas seguintes áreas:
Inteligência Artificial, com mais de 6 mil estudos;
Ciências Agrárias e Biológicas, com forte presença em temas como biodiversidade, biotecnologia e produção vegetal;
Medicina e Saúde Coletiva, puxadas por universidades públicas e institutos federais.
Esses dados mostram a força e diversidade da produção científica nacional, mas também revelam a influência do sistema avaliativo sobre os temas priorizados.
Em outras palavras: o que se publica muitas vezes é guiado por critérios de financiamento, visibilidade e pontuação institucional, e não necessariamente pelas demandas reais da sociedade. Isso reduz a capacidade da ciência brasileira de responder aos desafios sociais e ambientais mais urgentes.
🕳️ Os desafios estruturais permanecem: o que ainda nos impede de avançar?
Apesar dos indicadores positivos, a produção científica no Brasil segue enfrentando entraves sérios e persistentes:
Financiamento insuficiente e instável, que compromete desde bolsas de iniciação até grandes projetos de pesquisa;
Desigualdade regional severa, com concentração de produção nos estados do Sudeste e Sul;
Pressões por produtividade que favorecem a quantidade e não a profundidade da pesquisa;
Desvalorização da carreira científica, especialmente entre jovens doutores e pesquisadores fora da docência.
Essas condições levam a um paradoxo: produzimos muito com pouco, mas a sustentabilidade desse modelo está em risco.
🔓 Acesso aberto e plataformas como SciELO: visibilidade regional, mas com limitações
A plataforma SciELO, criada no Brasil e referência em acesso aberto na América Latina, já conta com mais de 450 mil artigos publicados. Ela desempenha um papel essencial na democratização da informação científica, especialmente para áreas e autores com menos acesso a revistas internacionais.
Entretanto, a adoção de práticas de ciência aberta ainda é baixa no Brasil. O compartilhamento de dados de pesquisa, por exemplo, é esporádico e pouco incentivado pelas instituições. Falta:
Política institucional clara;
Infraestrutura técnica;
Formação dos pesquisadores para lidar com dados abertos e reprodutibilidade.
O Brasil está presente no debate global da ciência aberta, mas ainda tem muito a avançar na prática.
🧭 Conclusão: um avanço que exige leitura crítica e ação política
O cenário de 2025 mostra um sistema científico brasileiro em crescimento quantitativo, com melhora relativa nos indicadores de impacto e colaboração internacional. No entanto, esses avanços não resolvem os problemas estruturais que ameaçam a continuidade e a equidade da ciência nacional.
É preciso enfrentar as questões de:
Financiamento consistente;
Avaliações mais justas e plurais;
Incentivo à ciência aplicada e de base;
Políticas de apoio à publicação científica ética, transparente e acessível.
A produção científica brasileira tem força, talento e diversidade — mas ainda carece de um projeto nacional de ciência articulado e sustentável.
📚 Referências utilizadas
Clarivate/CAPES. Panorama da Pesquisa 2024.
Disponível em: https://www.abcd.usp.br/informa/relatorio-clarivatecapes-panorama-da-pesquisa-2024Grabois.org.br. Produção científica brasileira cresce 6%.
Disponível em: https://grabois.org.br/2025/03/26/producao-cientifica-brasil-cresce-6SBPC. Produção científica brasileira cai pelo segundo ano consecutivo.
Disponível em: https://portal.sbpcnet.org.br/noticias/producao-cientifica-brasileira-cai-pelo-segundo-ano-consecutivoSpringer Nature. The State of Open Data.
Disponível em: https://www.springernature.com/gp/researchers/campaigns/state-of-open-dataWikipedia. SciELO – Scientific Electronic Library Online.
Disponível em: https://en.wikipedia.org/wiki/SciELO
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❓FAQ – Perguntas frequentes sobre produção científica brasileira
1. A produção científica brasileira realmente cresceu?
Sim! Cresceu 6% em 2024, após dois anos de queda. Mas esse avanço veio apesar dos cortes, não por causa deles.
2. Publicar com autores de fora ajuda?
Muito. Além de facilitar o aceite em periódicos internacionais, os artigos ganham mais visibilidade e citações.
3. O que são revistas predatórias?
São periódicos que cobram taxas pra publicar sem passar por revisão séria. Fique de olho! Use ferramentas como DOAJ e qualis para evitá-las.
4. O acesso aberto está funcionando no Brasil?
Parcialmente. A SciELO é referência, mas ainda falta incentivo para repositórios de dados e cultura de compartilhamento.
5. O sistema CAPES/Qualis ainda influencia?
Sim, e muito. Ele molda onde as pessoas publicam, o tipo de pesquisa que priorizam e até a carreira de professores e orientadores.
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