A escrita científica é muito mais do que relatar resultados: é uma ponte entre o conhecimento gerado na pesquisa e a sociedade. Cientistas precisam dominar essa habilidade para compartilhar suas descobertas de forma clara, objetiva e padronizada. Escrever bem é essencial não só para garantir a compreensão do conteúdo, mas também para alcançar visibilidade e reconhecimento dentro da comunidade acadêmica. Um bom artigo nasce de uma pesquisa bem planejada e de um texto cuidadosamente estruturado.

A estrutura de um artigo científico segue padrões fixos, inspirados no método científico. As seções principais — Título, Resumo, Introdução, Materiais e Métodos, Resultados, Discussão, Conclusão, Agradecimentos e Referências — compõem uma sequência lógica. Cada parte tem um papel específico no desenvolvimento do raciocínio científico. A Introdução, por exemplo, deve iniciar com o contexto mais amplo, afunilar para a lacuna na literatura e terminar apresentando a contribuição do trabalho. Já a Conclusão faz o caminho inverso: começa com os principais resultados e se expande para suas implicações mais amplas.

O resumo é, muitas vezes, a parte mais importante. Em bases de dados, é ele que define se o leitor continuará ou não a leitura do artigo. Para estudos com resultados originais, o resumo deve ser informativo e seguir uma estrutura clara: contextualização, lacuna, objetivo, metodologia, resultados e conclusão. Essa organização permite comunicar, de forma rápida, o valor da pesquisa.

Na redação científica, precisão e concisão são fundamentais. Termos técnicos devem ser usados com rigor, respeitando o significado específico em cada área. Adjetivos e advérbios vagos devem ser evitados, assim como expressões desnecessárias. A clareza vem da escolha cuidadosa de palavras e da estrutura lógica das sentenças.

O domínio da escrita científica não depende apenas do domínio da língua, mas também de estratégias como a linguística de corpus, uma abordagem baseada na análise de grandes volumes de textos acadêmicos. Essa técnica permite ao pesquisador aprender por imersão: lendo artigos publicados, identificando padrões, expressões recorrentes e funções retóricas. Ao construir um corpus pessoal, o autor passa a compreender como ideias são expressas de forma eficaz por autores experientes.

Para pesquisadores brasileiros, o desafio é ainda maior: além de pensar cientificamente, é preciso comunicar-se em uma língua estrangeira. O inglês, como língua franca da ciência, exige não só domínio gramatical, mas também sensibilidade ao uso natural da língua. É comum que sentenças escritas por falantes não nativos estejam corretas gramaticalmente, mas soem estranhas para leitores fluentes. Por isso, a leitura sistemática de artigos bem escritos é uma das melhores formas de desenvolver proficiência na escrita científica em inglês.

Criar um corpus personalizado, classificado por seções do artigo (introdução, método, etc.) e por função retórica (definir, contrastar, argumentar), é um excelente exercício para quem busca escrever com mais segurança e fluidez. Mais do que uma técnica, é um processo contínuo de aprendizado. Não há atalhos: escrever bem exige tempo, leitura atenta, prática e atenção aos detalhes.

A técnica de escrita científica, portanto, vai além da linguagem. Ela envolve estratégia, organização do pensamento, clareza conceitual e domínio das ferramentas disponíveis. É uma habilidade que se constrói com leitura crítica, prática disciplinada e vontade de se comunicar com precisão — a base para qualquer contribuição científica relevante.

Este conteúdo faz parte da série "Fundamentos da Escrita Científica", dedicada a apoiar pesquisadores na jornada da publicação acadêmica. 

Referências

Ethel Schuster, Haim Levkowitz and Osvaldo N. Oliveira Jr. (eds) Writing Scientific Papers in English Successfully: Your Complete Roadmap (Gráfica e Editora Compacta, São Carlos, 2014).

Osvaldo N. Oliveira Jr., As Linguagens do Conhecimento (Editora Cubo, São Carlos, 2014).

Osvaldo N. Oliveira Jr., A Técnica da Escrita Científica. Revista Brasileira de Ensino de Física,v. 37, n. 2, 2201 (2015)www.sb sica.org.brDOI: http://dx.doi.org/10.1590/S1806-11173720001

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